Zen Bodhidarma 2: Complementos



Notas

Esse texto chinês utilizado para a tradução é uma edição realizada em uma talha de madeira da dinastia Ch’ing que incorpora correções de erros óbvios do copista na edição normal do Tripitaka da dinastia Ming. Acrescentei algumas correções necessárias, baseadas principalmente em variações textuais encontradas nas versões de Tun-huang, que podem ser consultadas na obra do Dr. Suzuki (Shoshitsu isho oyobi kaisetsu (obras perdidas de Bodhidharma). Uma tradução inglesa anterior da Meditação sobre as quatro ações (da transmissão da lâmpada) aparece no Manual do budismo Zen, também de Suzuki. […]

 

1. Caminho. Quando o budismo foi para a China, a palavra Tao era usada para traduzir Dharma e Bodhi. Em parte isso deveu-se por que o budismo foi visto como uma versão estrangeira do taoísmo. Em seu “Sermão do Ciclo da Vida”, Bodhidharma diz: “O Caminho é zen”.

 

2. Parede. Depois de chegar à China, Bodhidharma passou nove anos em meditação em frente à parede de uma caverna próxima ao Templo de Shaolin. A parede do vazio de Bodhidharma liga todos os opostos, incluindo eu e o outro, mortal e sábio.

 

3. Quatro práticas. São uma variação das quatro nobres verdades: toda existência é marcada por sofrimento; o sofrimento tem uma causa; a causa pode terminar; e o caminho para terminá-la é o óctuplo caminho da visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, devoção correta, atenção correta e zen correto.

 

4. Calamidade e Prosperidade. Duas deusas, responsáveis por má e boa sorte, respectivamente. Elas aparecem no capítulo doze do Sutra do Nirvana.

 

5. Três reinos. O equivalente psicológico budista do mundo cosmológico triplo bramânico de bhurm, bhuvah e svar, ou terra, atmosfera e céu. O mundo triplo budista inclui kamadhatu, ou o reino do desejo – os infernos, os quatro continentes do mundo humano e animal, e os seis paraísos do prazer; rupadhatu, ou o reino da forma – e arupadhatu, da não forma os quatro paraísos da meditação; Juntos, os três reinos constituem os limites da existência. No capítulo três do Sutra do Lótus os três reinos são representados como uma casa em chamas.

 

6. Dharma. A palavra sânscrita Dharma vem de dhri, que significa pegar, e refere-se a qualquer coisa que precisa ser “pega” para ser real, tanto num sentido provisório como derradeiro. Portanto, a palavra pode significar coisa, ensinamento ou realidade.

 

7. Seis virtudes. Os Paramitas, ou meios de transporte para a outra margem: generosidade, moralidade, paciência, devoção, meditação, e sabedoria. Todos os seis devem ser praticados com desapego dos conceitos de ator, ação e beneficiário.

 

8. Mente. Um verso do Avatamsaka Sutra é parafraseado aqui: “Os três reinos são somente uma mente”. O Sexto Patriarca zen, Hui-Neng, distingue mente como o reino e natureza como o senhor.

 

 

9. Budas. O budismo não se limita a um buda. Ele reconhece incontáveis budas. Além disso, todos têm a natureza de buda. Há um buda em cada mundo, assim como há consciência em cada pensamento. A única qualificação necessária para a buditude é o conhecimento completo.

 

10. Sem definições. A ausência de definições na transmissão do Dharma é um critério do zen budismo. Não necessariamente significa sem palavras, mas sem restrições ao quanto o modo de transmissão. Um gesto é tão bom como um discurso.

 

11. Kalpa. O período entre a criação e a destruição do mundo, um eon.

 

12. Essa mente é o buda. É o budismo Mahayana em poucas palavras. Uma vez um monge perguntou a Ameixa Grande o que Matsu lhe ensinara. Ameixa Grande disse “Essa mente é o Buda”. O monge respondeu: Atualmente Matsu ensina “O que não é a mente não é o buda”. A isso Ameixa Grande respondeu: “Deixe-o dizer ‘O que não é a mente não é o buda’. Eu fico com ‘Essa mente é o Buda’”. Quando ele ouviu essa história, Matsu disse: “A ameixa está madura”. (Transmissão da Lâmpada, Capítulo 7).

 

13. Iluminação. Bodhi. Diz-se que a mente livre de ilusão é cheia de luz, como a Lua quando não está obscurecida por nuvens. Em vez de sofrer outro renascimento, a pessoa iluminada realiza o nirvana, porque a iluminação põe fim ao carma. A faculdade de ouvir é mais primitiva, mas a visão é a contumaz fonte de sabedoria acerca de realidade; daí o uso de metáforas visuais. Os sutras também falam de mundos nos quais os budas ensinam através do olfato.

 

14. Nirvana. Os tradutores chineses antigos tentaram umas 40 palavras chinesas antes de desistirem e simplesmente transcrever a palavra sânscrita, que significa ausência de respiração. É também definida como a única calma. Muitas pessoas a relacionam à morte, mas para os budistas o nirvana significa ausência do significado dialético da respiração. De acordo com Nagarjuna: “O que é samsara, quando sujeito ao carma, é nirvana, quando não mais sujeito ao carma”. (Madhyamika Shastra, Capítulo 25, verso 9).

 

15. Natureza própria. Svabhava. O que é por si mesmo. A natureza própria de nada depende, nem causal, nem temporal nem espacialmente. A natureza própria não tem aparência. Seu corpo é um não-corpo. Não é um tipo de ego, e não é algum tipo de substância ou característica que exista dentro ou fora dos fenômenos. A natureza própria é vazia de todas as características, incluindo o vazio, mas ainda assim define a realidade.

 

16. Invocar budas. Invocar inclui tanto a visualização de um buda como a repetição do nome do buda. O objeto usual de tal devoção é Amithaba, Buda do Infinito. Invocar de todo coração Amithaba assegura aos devotos renascer no Paraíso Oriental, onde a iluminação é dita ser muito mais fácil atingir do que neste mundo.

 

17. Sutra. Significa fio, um sutra mantém juntas por um fio as palavras de um buda.

 

18. Preceitos. A prática budista de moralidade inclui um número de proibições: usualmente cinco para leigos, aproximadamente 250 para monges e de 350 a 500 para monjas.

 

19. Ver sua própria natureza. Chamada de natureza própria, natureza de buda ou natureza do Dharma, nossa natureza é nosso corpo verdadeiro. É também nosso falso corpo. Nosso corpo verdadeiro não está sujeito ao nascimento ou morte, aparecimento ou desaparecimento, mas o nosso corpo falso está num estado de constante mudança. Ao ver nossa verdadeira natureza, nossa natureza se vê a si mesma, porque a ignorância e o conhecimento não são diferentes. Para uma exposição sobre isso em português, veja o livro de D.T. Suzuki: A Doutrina Zen da Não-Mente.

 

20. Vida e morte. Shakyamuni deixou o lar para achar uma saída do ciclo interminável da Roda da vida. Todos que seguem Buda devem fazer o mesmo. Quando chegou o momento de transmitir o manto e a tigela da linhagem Zen, Hung-jen, o Quinto Patriarca zen, reuniu seus discípulos em assembléia e disse-lhes: “Nada é mais importante que vida e morte. Porém em vez de procurar uma saída para o Oceano de Vida e Morte, vocês passam todo o tempo procurando maneiras de acumular méritos. Se vocês são cegos para sua própria natureza, para que serve o mérito? Usem sua sabedoria, a natureza-prajna de suas próprias mentes. Vocês todos, vão escrever um poema”. (Sutra do Sexto Patriarca Hui-neng, Capítulo 1).

 

21. Sutra Desdobrado em Doze. As doze divisões das escrituras reconhecidas pelo budismo Mahayana. Essas divisões, que surgiram para separar diferentes temas e formas literárias, incluem sutras, sermões de Buda; geyas, repetições em versos dos sutras; gathas, cânticos e poemas; nidanas, narrativas históricas; jatacas, histórias de budas anteriores; itivrittakas, histórias das vidas passadas dos discípulos; adbhutadharma, milagres de Buda; avadana, alegorias; upadesa, discussões da doutrina; udana, postulados não solicitados da doutrina; vaipulya, discursos estendidos; e vyakana, profecias de iluminação.

 

22. Roda de Nascimentos e Mortes. O renascer sem fim do qual somente os budas escapam.

 

23. Boa Estrela. No Capítulo 33 do Nirvana Sutra diz-se que Boa Estrela é um dos três filhos de Shakyamuni. E, tal como seu irmão Rahula, tornou-se um monge. No fim, ele era capaz de recitar e explicar inteiramente a literatura sagrada de seu tempo e pensou que tinha atingido o quarto reino celestial de dhyana no reino da forma. E quando o suporte cármico por tal feito exauriu-se, ele foi transportado fisicamente para o inferno do sofrimento sem fim.

 

24. Sutras ou shastras. Os Sutras são discursos do Buda. Shastras são comentários dos discípulos proeminentes.

 

25. Branco do preto. Referência à tentativa de ver o budismo como confucionismo ou taoismo, que se percebe no ensaio de Hui-ling sobre o tema, escrito em 435, no qual ele declarou o budismo e o confucionismo igualmente verdadeiros e no qual nega o funcionamento do carma após a morte.

 

26. Demônios. Os budistas, como os seguidores de outras crenças, reconhecem uma categoria de seres cujo único propósito é desviar do seu caminho os budas em potencial. Essa legião de demônios são lideradas por Mara, a quem Buda derrotou na noite de sua iluminação.

 

27. Carma. O equivalente moral da lei física de causa e efeito. O carma inclui ações do corpo, fala e mente. Tais ações giram a Roda do Renascimento e resultam em sofrimento. Mesmo quando uma ação é boa ela gira a Roda. O objetivo da prática budista é escapar da roda, por um fim ao Carma, agir sem agir, nem sequer para atingir um renascimento melhor.

 

28. Skandas. Palavra sânscrita que significa a constituição do corpo e da mente ou o corpo mental: forma, sensação, percepção, formações mentais e consciência.

 

29. Samsara. Palavra sânscrita que significa fluxo constante, o ciclo de mortalidade, o fluxo sem fim de nascimento e morte.

 

30. Tathagata. Uma dos nomes para designar um buda; o nome pelo qual um buda se refere a si mesmo. Um buda é sábio. Um Tathagata é a manifestação no mundo de um buda, seu corpo de transformação, em oposição a seu corpo de desfrute ou seu corpo real. Um Tathagata ensina o Dharma.

 

31. Quatro elementos. Os quatro elementos constituintes de toda matéria, incluindo o corpo material: terra, água, fogo e ar.

 

32. Kashyapa. Também chamado Mahakashyapa, ou o Grande Kashyapa, foi um dos mais principais discípulos do Buda e é considerado o Primeiro Patriarca na Índia. Quando Buda ergueu uma flor, Kashyapa sorriu como resposta, e a transmissão de mente a mente começou.

 

33. Bodhisattva. O ideal Mahayana. O bodhisattva condiciona sua própria liberação à dos demais seres, enquanto o arhat, ideal Hinayana, preocupa-se com procurar sua própria salvação. Em vez de encolher a mente em vacuidade, como faz o arhat, o bodhisattva expande-a ao infinito. É assim porque ele compreende que todos os seres têm a mesma natureza de buda.

 

34. Espíritos, demônios ou seres divinos. Espíritos são seres sem corpo. Entre os demônios se incluem vários deuses celestiais (devas), do mar (nagas) e da terra (yakshas). Entre os seres divinos está Indra, senhor dos 33 reinos celestes, e Brahma, senhor da criação.

 

35. O buda, o Dharma, e a sangha. Constituem o Refúgio Budista, ou as três jóias. Um Dharma é o ensinamento de um buda. Aqueles que seguem tal ensinamento formam a ordem dos monges, ou, na tradição Mahayana, bodhisattvas.

 

36. Zen. Palavra japonesa que significa meditação, primeiramente utilizada para transliterar dhyana. É atribuído a Bodhidharma liberar o zen da almofada de meditação, usando o termo para referir-se à mente cotidiana, a mente que senta sem sentar-se e que age sem atuar.

 

37. Milhares de sutras e shastras. Um catálogo do Cânone Budista Chinês, ou Tripitaka, feito no início do Séc. VI lista 2.213 trabalhos distintos. Cerca de 1.600 deles eram sutras. Muitos sutras foram adicionados ao Tripitaka desde então, mas muitos foram perdidos. O Cânone atual tem 1.662 obras.

 

38. Corpo e mente. O corpo dos quatro elementos e a mente são os cinco agregados designam o eu genericamente, mas Bodhidharma refere-se à natureza búdica.

 

39. Céu e inferno. Os budistas reconhecem quatro reinos celestes da forma, os quais são divididos em 16 ou 17 reinos celestes, e quatro sem forma. Do lado oposto da Roda existem oito infernos quentes e oito infernos frios, cada um dos quais tem quatro infernos adjacentes. Há também um número de infernos especais, tais como o inferno da escuridão e sofrimento sem fim.

 

40. Fanáticos. Dentre os seguidores das várias seitas budistas e não budistas, aqueles mais propensos a serem designados como fanáticos foram aqueles que se engajaram em ascetismo e auto-tortura ou aqueles que seguiram a letra e não o espírito do Dharma.

 

41. Insuperável e completa iluminação. Anuttara-samyak-sambodhi. O objetivo dos bodhisattvas. Veja o princípio do Sutra do Diamante.

 

42. Shakyamuni. Shakya era o nome do clã de Buda. Muni significa santo. O nome de sua família era Gautama, e seu nome pessoal era Siddharta. As datas exatas variam, mas o consenso é aproximadamente de 557 a487 A.C.

 

43. Ananda. Primo de Shakyamuni. Ele nasceu na noite da iluminação de Buda. Vinte e cinco anos após entrou na ordem como atendente pessoal de Buda. Após o nirvana de Buda, ele repetiu de memória os sermões de Buda no Primeiro Concílio.

 

44. Arhat. Liberar a si próprio do renascimento é o objetivo dos seguidores do Hinayana, ou Pequeno Veículo. Porém, ainda que um arhat esteja além das paixões, também está aquém da compaixão. Ele não percebe que todos os mortais compartilham a mesma natureza e que não há budas a não ser que todos sejam budas.

 

45. Icchantikas. Uma classe de seres preocupados tão exclusivamente com gratificação dos sentidos que a crença religiosa está fora do seu alcance. Eles quebram os preceitos e recusam-se a arrependerem-se. Uma tradução chinesa antiga do Sutra do Nirvana nega que os icchantikas possuíssem a natureza de buda. Uma vez que a proibição budista de matar intenciona evitar matar alguém capaz de atingir a buditude, matar icchantikas era, pelo menos em teoria, isento de culpa. Uma tradução mais recente do Sutra do Nirvana, entretanto, retificou esta noção, dizendo que mesmo icchantikas têm natureza de buda.

 

46. Mais baixas ordens da existência. Animais, fantasmas famintos e sofredores no inferno.

 

47. Raspar suas cabeças. Quando Shakyamuni deixou o palácio do pai no meio da noite para começar sua procura por iluminação, ele cortou com a espada seu cabelo, que estava na altura dos ombros. O cabelo curto que restou formava cachos no sentido do relógio que nunca precisavam ser cortados novamente. Mais tarde, os membros da Ordem Budista começaram a raspar suas cabeças para distinguirem-se de outras seitas.

 

48. Poderes espirituais. Os budistas reconhecem seis de tais poderes: a habilidade de ver todas as formas; a habilidade de ouvir todos os sons; a habilidade de saber os pensamentos dos outros; a habilidade de conhecer as existências prévias de si mesmo e dos demais, a habilidade de estarem em qualquer lugar ou fazer qualquer coisa a vontade; e a habilidade de conhecer o fim do renascimento.

 

49. Vinte e sete patriarcas. Kashyapa foi o Primeiro Patriarca da linhagem indiana. Ananda foi o segundo. Prajnatara foi o vigésimo sétimo e Bodhidharma o vigésimo oitavo. Bodhidharma foi também o Primeiro Patriarca Ch’an na China.

 

50. Selo. A transmissão da mente zen é de uma perfeita semelhança, a qual pode ser sempre conferida com a coisa verdadeira, a qual leva o mesmo tempo e faz o mesmo ruído como afixar um selo. (Isto é; Não faz ruído nem leva tempo)

 

51. Mahayana. Maha significa grande, e yana significa veículo. A forma predominante de budismo no nordeste, centro e leste da Ásia. O Theravada (Ensinamento dos Anciões) é a forma predominante do sul e sudeste da Ásia. A palavra Hinayana é também utilizada para referir-se ao Theravada.

 

52. Átomos. Os antigos budistas Sarvastivadins reconheciam partículas subatômicas chamadas parama-anu, as quais somente podem ser conhecidas através da meditação. Sete destas partículas fazem um átomo, e sete átomos fazem uma molécula, a qual é perceptível somente pelos olhos de um bodhisattva. Os sarvastivadins declaram que o corpo de uma pessoas é feito de 84.000 átomos (o número 84.000 era também utilizado para significar incontável).

 

53. Grande Veículo. O Mahayana. A mente. Só a mente pode levá-lo a qualquer parte.

 

54. Seis sentidos. Visão, audição, olfato, paladar, tato e pensamento.

 

55. Cinco agregados. Os cinco skandas, ou constituintes do indivíduo: Forma, sensação, percepção, formações mentais e consciência.

 

56. Dez direções. Os oito pontos cardinais, mais o zênite e o nadir.

 

57. Os Arhats permanecem imóveis. O arhat alcança o quarto e último fruto do budismo Hinayana, liberação das paixões, cultivando a imobilidade.

 

58. Deixar o lar. Como Shakyamuni fez para procurar a iluminação. Portanto, tornar-se um monge ou monja.

 

59. Local da iluminação. Bodhimandala. O centro de cada mundo, onde todos os budas alcançam a iluminação. O termo também refere-se a um templo budista.

 

60. Local desabitado. Local adequado para o cultivo da espiritualidade.

 

61. Caminho do meio. O caminho que evita realismo e niilismo, existência e não existência.

 

62. Visão verdadeira. O Óctuplo Nobre Caminho do Buda começa com a visão verdadeira (reta), que busca romper através do pensamento iludido ou ignorância, o primeiro dos 12 elos da Corrente do Carma: ignorância, formações mentais, consciência, nome-e-forma, órgãos dos sentidos, contato, sensação, desejo, apropriação, existência, nascimento, velhice-e-morte. Os três primeiros referem-se à existência anterior. Os dois últimos à próxima existência.

 

63. Samadí. O objetivo da meditação. Samadi é uma palavra sânscrita para mente sem distração, uma cobra dentro de um tubo de bambu.

 

64. Cinco trevas. Os cincos skandas ou agregados, os constituintes da personalidade que obscurecem natureza búdica: forma, sensação, percepção, formações mentais e consciência.

 

65. Início do nirvana. O nirvana não é final antes de se abandonar o corpo.

 

66. Garantia de não renascer. A realização do nirvana.

 

67. Terra búdica. Um reino transformado de imundície à pureza pela presença de um buda, portanto, uma terra pura. Veja a última seção do capítulo um no Sutra de Vimilakirti.

 

68. Balsa. Buda compara seu ensinamento à uma balsa que pode ser usada para cruzar o Rio de Renascimento Sem Fim. Mas uma vez que serviu ao propósito, a balsa é inútil. Não é mais uma balsa.

 

69. Deusa…cavalariço. A Deusa aparece no capítulo 7 do Sutra de Vimilakirti. O garoto apunhalado pode ser uma referência ao cavalariço de Shakyamuni. Se assim for, não estou familiarizado com a história.

 

70. Doze entradas. Os seis órgãos e os seis sentidos.

 

71. Três liberações. A libertação da ignorância, do ódio e do apego é ultrapassar as três portas da salvação: não-eu, não-forma e não-desejo.

 

72. Wutou e futzu. Um anestésico é extraído do futzu, as raízes secundárias que crescem da raiz básica do wutou (aconitum). A raiz secundária não se desenvolve até o segundo ano da planta.

 

73. Três corpos. O Nirmanakaya (Shakyamuni), o Sambhogakaya (Amithaba) e o Dharmakaya (Vairocana).

 

74. A Grande iluminação aconteceu nos Himalaias. A iluminação de Buda não ocorreu nos Himalaias, mas no antigo estado indiano de Magadha, sul do Nepal. Numa existência anterior, entretanto, Buda viveu nos Himalaias como asceta. Portanto, considerando as vidas anteriores isso é verdade.

 

75. Uma pessoa pode ampliar o caminho. O caminho não pode ampliar uma pessoa. É um dístico de Confúcio (Analectos, Capítulo 15)

 

76. Sabedoria perfeita. Trata-se de uma paráfrase da linha de abertura do Sutra do Coração, onde o bodhisattva é Avalokitesvara e no qual a sabedoria perfeita, ou Prajnaparamita, é não sabedoria, pois a sabedoria perfeita “vá, vá além, vá completamente além” está além de categorias de tempo e espaço, ser e não-ser.

 

77. Pura e impura. Para uma explanação mais extensa sobre o tema, veja O Tratado do Despertar da Fé no Mahayana, de Ashvaghosa, onde a pura e a impura são chamadas de iluminação e não-iluminação.

 

78. Sutra das Dez Etapas – Sutra do Nirvana. Quando as traduções desses dois sutras apareceram no início do Séc. V, elas tiveram um efeito profundo no desenvolvimento do budismo na China. Dentre os seus ensinamentos estão a universalidade da natureza búdica e a natureza de nirvana pura pessoal, alegre e eterna. Até então, a doutrina do vazio ensinada pelos Sutras Prajnaparamita tinham dominado o budismo chinês. O Sutra das Dez Etapas, o qual detalha os estágios que atravessam os bodisatvas no seu caminho para a buditude, é uma versão do capítulo sob o mesmo título no Sutra Avatamsaka.

 

79. Seis órgãos dos sentidos. Os olhos, ouvidos, nariz, língua, pele e mente.

 

80. Seis tipos de consciência. A variedade de consciências associadas com a visão, audição, olfato, paladar, tato e pensamento. O Lankavatara traz à luz compreensão, discriminação e memória (de Tathagata) para um total de oito formas de consciência.

 

81. Seis estados de existência. As variedades básicas de existência através das quais os seres movem-se, tanto pensamento após pensamento ou vida após vida, até que elas atinjam a iluminação e escapem da roda se sofrimento. O sofrimento nessa roda é relativo. Os deuses no céu levam uma vida mais feliz, enquanto que os sofredores no inferno vão de dor em dor. Os demônios e os homens experimentam mais sofrimentos que os deuses, mas menos que os fantasmas famintos e bestas.

 

82. Prática verdadeira. Prática que leva diretamente à iluminação, em contraste à prática que leva para outro estágio de prática. Aqui a prática verdadeira refere-se a contemplar a mente.

 

83. Dez boas ações. Incluem evitar as dez más ações, a saber, assassinato, roubo, adultério, falsidade, calúnia, agressão verbal, maledicência, avareza, raiva e defesa de visões falsas.

 

84. Cinco preceitos. São para budistas leigos. São regras contra o assassinato, roubo, adultério, falsidade e intoxicação.

 

85. Três asankhya kalpas. Um universo é marcado por três fases: criação, duração e destruição. Cada uma dura inúmeros (asankhya) kalpas. Uma quarta fase de vazio não está incluída aqui, pois ela não apresenta dificuldades.

 

86. Era final. O primeiro período da era de um buda dura 500 anos, depois do qual a doutrina correta começa a declinar. O segundo período dura 1.000 anos, durante o qual o entendimento da doutrina declina ainda mais. O terceiro e final período, cuja duração é indefinida, testemunha o desaparecimento final da mensagem de um Buda. Outra versão designa 500 anos para cada um dos três períodos.

 

87. Três conjuntos de preceitos. Existem cinco para budistas leigos comuns, oito para paras os membros leigos mais devotos e dez para monges e monjas noviços. Os cinco primeiros são regras contra o assassinato, roubo, adultério, falsidade e intoxicação. A esses cinco adicionam-se regras contra o adorno do corpo (guirlandas, jóias e perfume), conforto do corpo (cama macia) e comer demais (comer depois do almoço). E a esses oito adicionam-se postulados contra o divertimento e a posse de bens. Esses três conjuntos são resumidos pelos três votos. O voto de evitar o mal é feito por todos os crentes. O voto de cultivar virtude é feito pelos crentes leigos mais devotos. E o voto de salvar a todos os seres é feito por todos os monges e monjas.

 

88. Paramitas. Meios de transporte para a outra margem. Os seis paramitas começam com caridade e passam por moralidade e paciência, devoção e meditação até sabedoria. Comparando os paramitas a uma balsa que leva as pessoas para a outra margem, os budistas vêm a caridade como o vazio sem o qual um barco não pode flutuar; a moralidade como a quilha; a paciência como o casco; a devoção como o mastro; a meditação a vela e a sabedoria como a barra do leme.

 

89. Leite…mingau. Depois de engajar-se em práticas ascéticas inutilmente por alguns anos, Shakyamuni quebrou seu jejum tomando esse mingau de leite oferecido por Nandabala, filha de um chefe vaqueiro. Depois de tomá-lo, ele sentou-se debaixo de uma árvore e decidiu não levantar-se até atingir a iluminação.

 

90. Vairocana. Grande Buda Solar, que personifica o corpo-dármico ou o corpo verdadeiro de Buda. Como tal, Vairocana é a figura central no panteão dos cinco dhyani budas, que inclui Akshobhya ao Leste, Ratnasambhava ao Sul, Amitabha ao Oeste e Amogasiddhi ao Norte.

 

91. Seis períodos. Manhã, meio-dia, tarde, noite, meia-noite e madrugada.

 

92. Stupas. Uma stupa é uma elevação de terra ou qualquer estrutura erigida sobre os restos, as relíquias ou escrituras de um buda. A caminhada ao redor de stupas se dá na direção dos ponteiros do relógio, com o ombro direito sempre apontando a stupa.

 

93. Cinco tipos de incenso. Eles correspondem aos cinco atributos do corpo de um tathagata.

 

94. Dipamkara. Shakyamuni encontrou Buda Dipamkara ao final do segundo asamkhya kalpa e ofereceu-lhe cinco lótus azuis. Dipamkara então predisse a futura buditude de Shakyamuni. Assim Dipamkara aparece sempre que um Buda recita o Dharma do Sutra do Lótus.

 

95. Espiral. Um dos sinais auspiciosos de um Buda é um espiral entre suas sobrancelhas que emite raios de luz.

 

96. Seis atrações. Aquelas aos quais os seis sentidos apegam-se.

 

97. Senhor Buda (no original em Inglês, Lord). Uma tradução de bhagavan, um dos dez títulos de Buda. A tradução chinesa resulta em mundialmente honrado.

 

98. Sutra da Casa de Banho. Traduzido por An Shih-Kao em meados do Séc. II. Esse breve sutra reconta o mérito ganho em fornecer casas de banho para monges.

 

99. Vestimenta interna. Uma das três vestimentas reguladoras de um monge. A vestimenta interna é vestida para proteger contra o desejo. O manto de sete retalhos protege contra a raiva. E o manto de 25 retalhos protege contra a ilusão.

 

100. Paraíso ocidental. Também chamado de Terra Pura. Essa terra é governada por Amithaba, um dos cinco budas dhyani, associado ao Ocidente. Invocar Amithaba de todo coração assegura ao devoto renascimento na Terra Pura, que se diz estar a milhares de quilômetros, mas nem um pouco longe. Uma vez renascidos lá, os devotos têm menos problemas para entender o Dharma e atingir libertação